Palmanova (batizada incialmente Palmae), uma cidadela erigida em 1593 pelos venezianos, é um patrimonio da humanidade tombado pela UNESCO.

A cidade estrelada foi arquirtetada sobretudo para servir como uma fortaleza na época afim de se resguardar de saques, incursões e ameaças turco otomanas.


Com sua arquitetura renascentista surreal foi especialmente idealizada por uma equipe selecionada de engenheiros e arquitetos, para criar uma fortificação e ao mesmo tempo uma urbe em formato de polígono, que dão acesso remoto da “Piazza Grande” as nove pontas que a circundam, além de obviamente se destacar, suas enormes muralhas e o fosso dando amplitude em 360 graus para quem a ameaçasse.


Porém, o artigo de hoje não irá retratar apenas essa maravilha, mas também estrelas que recentemente encontramos em nossa genealogia e que merecem seu devido destaque. Nada melhor do que coroar os motivos, já que nasceram nesse lugar tão inspirador.

Recentemente foi publicado aqui um estudo inicial que relatava detalhadamente os históricos coletados de uniões matrimoniais de primos sob o título 100% Zama. Ocorre que da união de Luigi Zamarian e Ida Maria Zamarian, no dia 24 de junho de 1896, nascera os gêmeos; Ferdinando Zamarian e Anna Zamarian.


Arianna Ellero

Um deles, em especial, teve um destino diferente daquele dos arredores do epicentro Malafesta.

Em 1921, de fato, Anna Zamarian se casa com Francesco Ellero e se transfere então para a estrelada Palmanova (onde inclusive está sepultada).

A família Ellero, destacou-se por serem artesãos (ou sarte como são chamados em italiano) e desse ramo, como haveria de ser, nasce uma importante artista plástica: Arianna Ellero.

Nascida no forte estelar de Palmanova, aqui introduzido, cresceu diretamente envolvida com as cores harmoniosas e a arte herdada de seus ancestrais.

Formada no Instituto de Arte da capital friulana Udine, destaca-se explorando a vibração e estímulo de elementos naturais, dos quais tem uma profunda conexão com técnicas clássicas em óleo, acrílico, entre outros.

Seus trabalhos são personagens, essências simbólicas, visões abstratas ou até mesmo formas simples que exprimem energias variadas de livre interpretação.

Nossa outra estrela de Palmanova nos leva para a arte da vida

Em uma terça-feira gelada do dia 23 de janeiro de 1883, comparece por volta das nove horas da manhã no registro civil da cidade fortificada a parteira Angela Zorzi. Quem a recebe é o assessor para assuntos de censo municipal Antonio Sabbadini.

A “levatrice” (ou parteira, no exercício de sua função como é conhecida na Itália) está ali para denunciar o nascimento de uma menininha, pois os pais, inexplicavelmente (pelo menos nas anotações daquele registro) não comparecem.

De todos os mais quinhentos documentos referentes a nascimentos que já analisei, este foi o único em que tivera tal desconsideração e desafeto por parte dos respectivos pais. Não se sabe qual foi o motivo, mas qualquer que tenha sido, humanamente pode-se dizer que é lamentável e que infelizmente isso faz parte da nossa história como civilização até os dias de hoje.

Vejo aqui também uma estranha cumplicidade na atitude da parteira (e talvez até mesmo de Antonio, se é que ele sabia) em ter que coibir a revelação do nome dos pais, mas a verdade é que parecia ser amparado legalmente na época, pois tais atitudes eram propositalmente protegidas pelas autoridades.

É possível notar, a exemplo de outros registros de nascimento apurados, que quando o casal não formulava sua união legalmente pelo município, não podia-se atribuir o nome da mãe da criança e deste modo, até que não se formalizasse o matrimonio, apenas o nome do pai poderia aparecer em tais registros, com observação futura de reconhecimento de tais frutos das então descritas “uniões naturais”, depois da regularização perante o órgão municipal.

Também há de se considerar que, para a sociedade na época durante muito tempo as Dioceses eram as responsáveis por esses registros. Então para eles, a importância principal, antes de mais nada, era o registro, seja ele matrimonial, batismal ou obituário em sua paróquia.

Registros municipais, surgiram primeiramente de 1805 até 1815 por imposição de Napoleão Bonaparte, quando dominou a região naquele período, depois passou para os cuidados das respectivas paróquias novamente.

Só retornou a esfera do poder público municipal apenas por volta de 1870 e voltariam a ter significativa importância a partir da pressão para regularização das respectivas vidas sociais, em função do uso de outros benefícios de instancia administrativa.

Por isso as vezes a dificuldade de se localizar documentos para podermos fechar certas lacunas em nossa genealogia, pois muitos deles estão em poder das Dioceses e o acesso nem sempre é tão simples, exigindo-se um pouco mais de tempo e por vezes somente através de solicitação presencial.

Abaixo, um exemplo do nascimento de uma das filhas de Osvaldo Zamarian com Antonia Biason. Vejam que no corpo do registro onde comumente costuma ir o nome da esposa tem a seguinte observação:

“...dalla sua unione con donna non maritata non parente, né affini con lui nei gradi che ostano al riconoscimento è nato un bambino di sesso femminile che non mi presenta, e a cui da il nome di Santa...”

(da união com mulher não casada, não parente, nem afim com ele na condição que impedem o reconhecimento ao bebê de sexo feminino que não me apresenta...).

Já na coluna da direita, a observação da regularização do casamento e aí sim o nome de Antonia Biason com a respectiva data que realizaram o matrimônio civil.

Já aqui temos o registro de batismo da mesma Santa Carmela Zamarian, realizado na paróquia de Villanova della Cartera (sob o título uma época de “Beata Vergine” “San Giorgio” e hoje “San Tommaso” apóstolo), igreja responsável pela região que incluía Malafesta.

No corpo a informação de que Antonia e Osvaldo realizaram o matrimônio naquela paróquia no dia 9 de fevereiro de 1902, ou seja nove meses antes do nascimento da primogênita do casal.

Já no civil esse registro ocorreu apenas 7 anos depois (em 1909), bem provavelmente porque o casal precisava de algum documento junto ao órgão municipal e tinham que regularizar a situação civilmente.

Aqui então aparece na íntegra a regularização civil junto ao Comune de San Michele al Tagliamento, em que no final do documento observa-se o reconhecimento de todos os filhos concebidos pelo casal antes do dia 12 de setembro de 1909, data em que se casaram civilmente:

L’anno mille novecento nove addì dodici di settembre, a ore anti meridiane undici e minuti nessuno, nella Casa Comunale di San Michele Al Tagliamento, aperta al pubblico.

Avanti di me Ambrosio Cavalier Felice, Sindaco Ufficiale dello Stato Civile, vestito in forma ufficiale, sono personalmente comparsi: 1º Zamarian Osvaldo, vedovo, di anni quaranta, *contadino, nato in questo Comune, residente in Malafesta, figlio del fu Valentino, residente in vita in Malafesta, e di Biasin Teresa, residente in Malafesta; 2º Biason Antonia, vedova di anni trentuno, *contadina nata in questo comune, residente in Malafesta, figlia di Natale, residente in a Malafesta, e di Paulato Maria, residente in Malafesta, i quali mi hanno richiesto di unirli in matrimonio; a questo effetto mi hanno presentato il documento sotto descrito; e dall’esame di questo non che di quelli già prodotti all’atto della richiesta delle pubblicazioni, i quali tutti muniti del mio visto, inserisco nel volume degli allegrati a questo registro, risultandomi nulla ostare alla celebrazione del loro matrimonio, ho letto agli sposi gli articoli cento trenta, cento trentuno e cento trentadue del Codice Civile e quindi ho domandato allo sposo se intende di prendere per moglie la qui presente Biason Antonia e a questa se intende di prendere per marito il qui presente Zamarian Osvaldo, ed avendomi ciascuno risposto affermativamente a piena intelligenza anche dei testimoni sotto indicati, ho pronunziato in nome della legge che i medesimi sono uniti in matrimonio. A quest’atto sono stati presenti: Faggiani Virginio, di anni ventinove, bracciante e Pizzolitto Giovanni Battista di anni ventisette, stradino, entrambi presenti residente in questo Comune. Il documento presentato sono i certificati delle pubblicazioni da me eseguite nelle due domeniche ventinove agosto e cinque settembre anno corrente.

I suddetti sposi alla presenza dei indicati testimoni mi hanno altresì dichiarato che dalla loro unione naturale nacquero in questo comune quattro figli, il primo il ventinove settembre mille novecento due, di sesso femminile, cui fu imposto il nome di Santa , inserito nei registri di nascita di questo ufficio di quell’anno al progressivo numero duecento quattro; il secondo il quattordici maggio mille novecento cinque, di sesso maschile cui fu imposto il nome di Giuseppe inscritto nei registri di nascita di questo ufficio di quell’anno al progressivo numero novantasei; il terzo il diciannove settembre mille novecento sei di sesso femminile, cui fu imposto il nome di Angelina , inscrito nei registri di nascita di questo ufficio di quell’anno al progressivo numero cento novanta quattro; il quarto il venti quatro ottobre mille novecento otto di sesso maschile, cui fu imposto il nome di Raffaello , inscrito nei registri di nascita di questo ufficio di quell’anno al progressivo numero duecento quaranta sei, figli denunciati dal padre e che essi stati col presente atto intendono di riconoscere all’effetto della loro legittimazione.

Letto approvato e sottoscritto, meno dalla sposa asseritosi illetterata.

Tais reconhecimentos também são depois colocados nos respectivos registros de nascimentos das crianças (como fora demonstrado acima no registro civil do nascimento de Santa Carmela), aparecendo então a relativa maternidade na íntegra omitida para resguardar a mãe.

Essas situações hoje são encaradas com um pouco mais de cuidado na esfera legal, já que a fragilidade de um recém nascido nada pode fazer, mas a justiça as vezes destapa o olho para atender interesses da sociedade deixando a evolução desses processos, como sempre, em segundo plano.

Entretanto, no caso do bebê de Palmanova, voltando a nossa história, não se trata de regularização e sim de abandono infelizmente como iremos ver: no decorrer da transcrição do registro do nascimento (denotado em negrito na transcrição logo abaixo), a mãe pede para não ser revelada.

A parteira tem que atribuir um nome e sobrenome de batismo para criança que não seja, obviamente, aquele dos pais. Uma absurda transferência de responsabilidade em quase pleno Século XX. Angela, então, a batiza como Olema Felitzia Brunot.

L’anno mille ottocento ottantatré, addì ventitré di gennaio, a ore antimeridiane nove e minuti quindici, nella Casa Comunale.

Avanti di me Antonio Sabbadini, Assessore Municipale ed, in assenza del facente funzioni di Sindaco, Ufficiale dello Stavo Civile del Comune di Palmanova, è comparsa Angela Zorzi, di anni, sessantuno, *levatrice, domiciliata in Palmanova, la quale mi ha dichiarato che a ore antimeridiane una e minuti nessuno del dì diciannove, del corrente mese, nella casa posta in Borgo Aquileia al numero quindici, da una donna che non consente di essere nominata è nato un bambino di sesso femminino che non mi presenta, e a cui da il nome di Olema Felitza ed il cognome di Brunot. A quanto sopra e a questo atto sono stati presenti quali testimoni Tomaso Tracanelli, di anni ventisei,*impiegato e Giuseppe Roussel di anni sessantadue, *impiegato entrambi residenti in questo Comune. La dichiarante fu da me dispensata dal presentarmi il bambino suddetto a ragione dell’eccessivo freddo, dopo essermi altrimenti accertato della verità della nascita stessa.

Detto bambino viene da inviato al Brefotrofio di Udine a mezzo di Federica Zorzi, alla quale rimetto una copia del presente atto perché si consegni del Direttore di esso Brefotrofio insieme col bambino e cogitò oggetti relativi che consistono in un pannolino, una fascia ed una cuffia.

Letto il presente atto agli intervenuti, lo hanno, meco, sottoscritto.

Procurei entender o significado de um nome tão diferenciado, mas não houve explicação plausível que pudesse esclarecer essa escolha, pelo menos acessível nesse momento. Uma justificativa era de talvez no futuro poder localizar com maior facilidade, a outra, um pouco mais fantasiosa, seria que os nomes dos pais poderiam estar simplificados, mas a verdade é que será muito difícil a essa altura da cronologia encontrar a lógica.

Porém, documentos sempre deixam pistas e caso fôssemos aplicar nosso querido leão XerlokZamas seria possível checar os proprietários da casa indicada em Borgo Aquileia número 15, algo bastante acessível já que nas sedes da maioria das administrações públicas possuem mapas com os respectivos proprietários da época para efeito de matrícula imobiliária.

O assessor Antonio então informa nas observações finais do registro o encaminhamento de Olema para um “Brefotrofio” (instituto onde se encaminham neo nascidos abandonados) ou simplesmente orfanato, na cidade de Udine.

No texto ainda atenta para a necessidade de fralda, algum tipo de manta para envolver e touca protetora, talvez como ítens necessários para poder receber a recém nascida.

Tristes relatos, por vezes inaceitáveis, mas sempre tem o outro lado da vida que vale mais a pena se focar, então vamos a ele.

Não se sabe como Felitzia (que significa sorte) veio parar depois de todo esse histórico em Malafesta.

Fato é que ela se casou com Angelo Biason (irmão de Antonia Biason, minha bisavó) no dia 21 de fevereiro de 1904, e todo esse apurado foi gerado justamente porque no campo do nome dos pais de Olema estava indicado: ignorados, me movendo a buscar seu registro de nascimento para entender a razão.

O que também me surpreendera é que no documento (conforme abaixo) consta a sua assinatura. Considerando o fato que ser alfabetizado naquela época, principalmente em uma zona rural, era algo para pouquíssimos.

Diga-se de passagem que nem o marido, Angelo assinou o documento por ser iletrado o que se junta a pelo menos 85% dos casos já analisados em mais de dois mil documentos dentro de nossa genealogia.

Como disse algo para poucos. Essa estrela de Palmanova soube dar a volta por cima e com muita classe.

Desse matrimônio consegui apurar até o momento, pois os registros nos limitam até o ano de 1904 no que diz respeito aos nascimentos, apenas o nascimento da primogênita Maria Biason (nascida no dia 22 de março de 1904).

No mesmo registro informa que a filha de Angelo e Felitzia contraiu matrimonio em 1924 com Pietro Sclosa.

Fico imaginando o tamanho sua felicidade e bem provavelmente não deve ter parado por aí.