Seculares Zamas
Vem conosco apreciar e tire suas próprias conclusões do que pode ter em comum os respectivos perfis de cada um.
Os segredos de uma vida centenária
Nos últimos anos acabamos perdendo entes e personagens queridos da nossa história. Recentemente a tia Tita de Mendoza, Argentina. Ela é parte de um seleto grupo dessa família que tiveram o privilégio de superar os noventa anos de idade, e em alguns casos, como no dela, quase atingir um século de vida. Dentro dessa temática começou a bater uma curiosidade de como, em uma maneira bastante pragmática e objetiva, viveram essa experiência. Claro que também, uma maneira propícia e muito especial de homenagear esses nossos heróis pelas marcas atingidas e eternizá-los como merecem.
Se de maneira espontânea já chama atenção atingir esse feito, historicamente nossa genealogia tem mostrado que chegar próximo dos noventa são para bem poucos, ultrapassar então, praticamente uma dádiva divina. Com as últimas adesões a nossa árvore La Favorita e o grande feito de unificar esses dados, trabalho que ainda está sendo processado (portanto podem surgir outros pelo caminho), foi possível evidenciar entre os quase cinco mil de nossa atual genealogia, aqueles que chegaram próximo a casa de um século de vida.
Até o momento conseguimos identificar apenas seis descendentes que realizaram isso. E quando chamo a atenção que cada dado informado é muito importante para o trabalho, quero dizer também que ajudam a preservar a memória de nossos antepassados, imortalizando suas histórias e resguardando nossos traços.
Começarei apresentando a mais nova, no caso, Severina que no ano passado entrou para essa seleta lista, e no final então chegarmos a rainha da família Angelina, dona da maior longevidade da nossa genealogia até o momento. Graças a contribuição de alguns parentes mais próximos, com informações valiosas, foi possível então criar um perfil cronológico resumido da vida de cada um.
Severina Martin
Na imagem temos a neta Patrícia Balarin com Severina, que por sua vez é primogênita do casal Santa Carmela Zamarian e Riccardo Martin. Neta de Osvaldo Zamarian e Antonia Biason, é a número quatro de um total de nove irmãos e a única viva até o momento.
Seu nome, muito provavelmente, foi uma homenagem à irmã da mãe que, acreditamos, tenha infelizmente partido ainda bebê ou criança, batizada como Angelina Severa, e carinhosamente chamada de Severina, como era de costume da família.
Em meados dos anos cinquenta, deixa o sítio onde morava com os pais e parte para o perímetro urbano da cidade de Botucatu, Estado de São Paulo para unir-se em matrimônio com Carlos Calore.
Da união nascem duas filhas: Carmela e Rosangela, ambas também já casadas. Aos sessenta anos de idade, fica viúva e passa então a dedicar-se às netas Fernanda, Patrícia e o neto Sandro.
Da neta Fernanda mais uma benção, com a vinda da primeira bisneta.
Arte, culinária preservada e música erudita
Dentre suas predileções se destaca a dedicação pelo crochê. Os milimétricos pontos que movimentam a agulha e formam delicados e majestosos desenhos encantaram desde sempre os olhos de Severina, o que virou sua paixão e um costume saudável para a mente. Porque afirmo isso? Porque minha amada mãe Verônica também é uma exímia produtora de magníficos crochês e em minha mente guardo momentos maravilhosos de diálogos infinitos, enquanto como uma máquina, entrelaçava aqueles fios. E de toda aquela obra no final, enchiam os olhos as geometrias criadas.
Derivados suínos, sobretudo a carne, sempre acompanhada de muitas verduras, era o que mais abria seu apetite. As massas, como manda o código de conduta da origem, jamais saíam de uma embalagem industrializada, mas sim artesanalmente de suas caprichosas mãos. E vamos combinar, que em 110% dos casos que o preparo parte da própria autoria, sempre tem um toque especial que categoricamente diferencia um prato gerando fama e predileção. ...É di vó! Porque ali está o segredinho que milenariamente é passado de geração em geração.
Se existe algo que automaticamente transforma o espírito de Severina é a música italiana, sobretudo as de canto harmônico do tipo gregoriano, algo que certamente aprendeu a apreciar com o avô Osvaldo Zamarian, que fazia parte do coral de sua igreja, quando ainda estava na Itália.
Sabemos que a música provoca vários estímulos positivos em nosso dia-dia tais como; motivações, potencializando nosso desempenho e o bom humor, aliviando a ansiedade, como terapias até mesmo para incomodas noites de insônia.
Amores incondicionais
Devota de Santo Antônio, outra predileção que muito provavelmente cultivara de seus pais e consequentemente também dos avós, já que o é praticamente o Santo da família desde sua origem em Malafesta, como veremos mais abaixo a seguir.
Amor incondicional pela família, sua conduta de vida é como a neta Patrícia a descreve em poucas palavras. Pois certamente é o impulso de viver de Severina Martin que reflete nessa fortaleza de amor e carinho construída em volta dos seus, este, o segredo mais precioso de uma longevidade que fizeram dela tão querida e amada pelos pais, filhos e netos.
Patrícia Balarin
Zelinda Zamarian
Quem gosta de flores, um coração imenso possui. Assim era o de Zelinda Zamarian.
Além do grande amor que tinha pela natureza, transmitidos com bastante intensidade pelos pais Giuseppe Valentino e Maria Garavello, e avós Osvaldo e Antonia Biason, seus dias também eram acompanhados de boa música, além de obviamente da própria arte, sobretudo daquelas relacionadas a expressão humana, sempre antenada culturalmente, de maneira destacada para aquelas que a mantinha conectadas com os valores que aprendeu a cultivar desde criança.
Pretinha, sua cachorrinha (que na imagem aparece no seu colo), fiel companheira, foi uma das testemunhas que puderam vivenciar essas valiosas experiências de Zinha.
Diante de uma introdução tão esclarecedora como essa, não é difícil imaginar tempo ruim e ela tratava logo de celebrar esses bons momentos com uma bela macarronada italiana, adornada com bastante parmesão.
Para acompanhar suas rotineiras sessões diárias de infinitos capítulos das várias novelas que seguia, a farinha de milho com café não podia faltar, afirma o filho José Antonio Fernandes.
E na refeição matinal o pão tinha que ser francês e de preferência sem nenhum recheio.
Os bons frutos e a devoção a Nossa Senhora Aparecida
Como vivera em diversas cidades de três diferentes Estados, tendo como primeiro o de São Paulo, onde nascera, na cidade de Botucatu, no dia 26 de março de 1929, a transição para o norte do Paraná marcou significativamente.
Mas foi em 1964 quando se casou com Pedro Fernandes Wenceslau que certamente sua vida mudou, com as chegadas nos anos seguintes da filha Conceição e o caçula Jose Antonio, porque para ela o que mais importava na vida, era o amor pela família e sendo abençoada com uma, não poderia ser diferente.
Em suas viagens jamais dormia, porque gostava de admirar cada detalhe que a mesma proporcionava para depois compartilhar suas experiências de navegadora atenta.
Também eram companheiros inseparáveis as proteções divinas, ela era devota de Nossa Senhora Aparecida e antes de dormir e no primeiro momento que levantava seus bom dia e seu boa noite era para Deus através de suas orações em seus noventa e um anos, dez meses e 21 dias de abençoada vida.
José Antonio Fernandes
Natal Zamarian
Não por acaso irmão de Zelinda Zamarian (acima apresentada). Natal Zamarian nasceu no dia treze de maio de 1926, na cidade de São Manuel do Paraíso, na primeira fazenda que hospedou a família dos avós Osvaldo e Antonia Biason.
Recebera esse nome justamente em homenagem do bisavô materno (pai de Antônia) que muito provavelmente não conheceu, Natale Biason.
Sua maior paixão era aquela de estar no comando de um acordeon Tosdechini 80 baixos, produzindo bons momentos na companhia da família, amigos e parentes, dando também a honra de alguns de seus variados repertórios. Sua música preferida tinha autoria de Raul Montes Torres, que como ele, era filho das redondezas de Botucatu, que bem provavelmente teve a honra de conhecer e se inspirar.
Saudade de Matão, de fato foi escrita por Torres em 1940 e também fez sucesso com os patrícios Tonico e Tinoco, já que também nasceram na mesma São Manuel, moradores vizinhos da família Zamarian, já que os padrinhos de batismo do irmão de Tonico e Tinoco, eram Osvaldo e Antonia Biason. Uma gaita Sedutora Cromatica de 80 vozes também era sua companheira nos seus momentos de grande felicidade.
Sabedoria divina e a queda por doces
Destacado pela honestidade e inteligente forma de expressar sua sabedoria em poucas atitudes, quem o conhecia de verdade, logo sabia se tratar de alguém diferente e que merecia toda consideração depositada. Antes de dormir, seu companheiro imprescindível era o terço nas mãos e a oração ao Santíssimo, uma herança que já veio dos pais e avós e que ele erradicou diante de seu próprio exemplo, conduta de sua fé.
Por fim, como todo bom Zamarian que carrega essa perdição em seu DNA, já que a culinária armênia é recheada dessas guloseimas, tinha uma queda considerada por doces. Mas o dele, em especial, era bem brasileiro já que a rapadura de cidra era indispensável em seu celário. Talvez até por causa do grande contato que sempre tivera em parte de sua adolescência, com os canaviais e a extração da gramínea na Fazenda Esperança, cidade de Avaré, Estado de São Paulo, onde boa parte da família se alocou temporariamente até rumarem para o norte do Paraná.
Apaixonado por pedaladas
Outro grande hobby em sua vida era o ciclismo. Tanto que na primeira oportunidade logo adquiriu, em 1946, uma clássica Phillips (foto em destaque na introdução e abaixo) com dínamo e farolete de série. Essa bicicleta em especial, pertenceu primeiramente ao assim conhecido marceneiro Moacir, que com ela venceu um ano antes a primeira corrida de Londrina, patrimônio esse, que conservou durante toda sua vida de maneira zelosa e intacta, que até hoje permanece na família.
Na imagem exibe orgulhoso juntamente juntamente com seus irmão e o primo, companheiros de pedalada, sua grande companheira de tantos quilômetros percorridos. Da esquerda para a direita de quem vê: Natal Zamarian, Antonio Zamarian (irmão), Cirillo Zamarian (primo) e João Zamarian (irmão).
Percorrendo saúde
Suas pedaladas eram contínuas, por isso na mesma época em que comprou, logo fez questão de acrescentar espelho retrovisor para auxiliar na navegação. Os percursos, freqüentemente com altimetrias consideráveis além de longos, ressaltando que, quando se trata de estrada do tipo “macadame” o esforço é dobrado.
Mas isso não era incômodo para Natal, que mesmo aos setenta anos de idade, em companhia do seu irmão João (também na foto abaixo), um pouco mais novo que ele, se deslocavam de sua residência em Assaí até Jataizinho percorrendo uma distância total, entre ida e volta, de cinquenta quilômetros, afirmou o filho Euclides Tadeu Zamarian. merecem.
Com todas essas virtudes, disposição com um histórico recheado de vida e saúde em abundância, Natal viveu intensamente seus noventa e três anos, sete meses e trinta dias.
E querem saber um outro segredo? Sua esposa Adriana Maximiano também passou dos noventa, pra ser mais exato noventa e dois anos, 4 meses e vinte dias. Com toda certeza do mundo não foi por acaso.
Na imagem abaixo, três gerações: Natal, o filho tadeu segurando o copo e os netos Wesley, de boné juntamente com Wellington na ponta da esquerda para quem vê.
Osvaldo Zamarian
Gostava de pescar, pois nesses momentos era a oportunidade de relembrar muitas de suas histórias vividas, sobretudo de maneira particular e especial àquelas relacionadas as suas origens. Era a sua forma de lidar com as saudades da terra natal margeada pelo grande rio Tagliamento. No início, as adaptações com o Brasil foram complicadas. Sofreu bastante com o fato de ter deixado San Michele e até chegou a ficar doente por causa disso, relembrou a esposa Antonia Biason.
Mas logo procurou levar em consideração os pontos positivos da abundância de vida que essa “Merica, Merica, Merica” proporcionava.
Sua maior alegria sem dúvidas era presenciar nascimentos, sobretudo advindos da família. Não por acaso, nossa genealogia mostra que no passado, principalmente na época em que nasceu, batizada como “anos fatais”, o índice de mortalidade de gestantes e crianças era terrivelmente impiedoso, já que os problemas sanitários na região frequentemente castigavam mulheres e neo natos deixando por incompleto muitos sonhos, despedaçando famílias.
Polenta com sardinha, a uva e o vinho
Ele mesmo havia vivido algumas perdas trágicas, como a primeira esposa Carolina Lucchin e os filhos Lucia (primeiro casamento), Angelina e Cirillo (segundo), este último em pleno alto mar, sem mesmo nem poder sepultá-lo adequadamente, na vinda para o Brasil.
Algumas tradições fizera questão de continuar cultivando, como forma de manter-se conectado com Venezia. Além do sagrado cálice de vinho tinto seco como desjejum matinal, sua dieta preferida era próprio advinda de sua terra natal: à base de milho, grão mais comum nas plantações do vilarejo Malafesta até hoje em evidência, berço da gênese Zamarian na Itália. De fato a mistura de polenta com sardinha era o prato preferido do “nonno” Osvaldo.
Ainda no tema tradição, sua menina dos olhos era o “terroir” erigido bem em frente a sua casa no patrimônio Selva, distrito distante cerca de 10 quilômetros da cidade de Londrina, Estado do Paraná. Certamente as vinhas em pergola de cepas tintas era seu orgulho e rigorosamente bem administrado, podado com sua “roncolina” sempre a mão, conforme precede os cuidados que aprendera as margens do majestoso Tagliamento, rio que corta todo o Vêneto, região detentora da maior produção de derivados da uva da Itália, que milenariamente prospera com rótulos famosos DOCG como o Valpolicella.
La sesta friulo-veneziana
Conta a sua neta Mafalda Zamarian, que um dos seus melhores passa tempos era ficar deitado embaixo do parreiral nas suas religiosas sestas e momentos dedicados a leitura.
Santo Antonio era o seu santo de devoção, certamente o de toda família já que a capela octogonal construída a seiscentos metros da propriedade onde nascera e crescera, em 1666, que bem provavelmente, segundo informações, alguns membros da própria família teriam participado na construção, era dedicada ao milagreiro franciscano português de Padova.
Como todo amante veneto-friulano alpino de montanha, a música, de maneira especial a gregoriana, também era sua companheira frequente, já que fazia parte do coral da paróquia que frequentava desde quando nasceu no dia 24 de junho de 1869.
Osvaldo viveu noventa e três anos, seis meses e oito dias de uma vida muito próspera, com onze filhos e tantos netos que hoje acolhem o seu recado e procuram cultivá-lo na prática. Meu pai e seu neto, Antonio Zamarian, conta que no dia primeiro de janeiro de 1963, uma revoada de passarinhos cantando forte passou pela sua casa e logo em seguida que notou aquilo afirmou a minha mãe: “o nonno partiu”.
Alcides Martin
Filho de Ricardo Martin e Santa Carmela Zamarian, consequentemente neto de Antonia Biason e Osvaldo Zamarian (acima apresentado), Alcides Martin superou o próprio avô e é dono da melhor marca, entre os homens, de longevidade: noventa e quatro anos, cinco meses e vinte e cinco dias.
Sua preferência, seguindo a tradição, era a boa macarronada, acompanhada de frango e vez em quando uma sopa de legumes para abrir o apetite. Porém era bastante metódico nos horários, tanto que por volta das dezessete horas jantavam e rigorosamente as sete da noite se preparavam para dormir.
A revista Galileu apresentou em uma de suas publicação no ano de 2018 que quem dorme cedo vive mais. Certamente essa atitude saudável, Alcides procurou levar a risca, pois dormir cedo, segundo os resultados do estudo, diminui o estresse, afasta a ansiedade e consequentemente melhora a qualidade de vida. Outro detalhe rotineiro, em se falando de horários, é que consequentemente levantavam as cinco da manhã e por volta das onze almoçavam.
Boccia
O passatempo predileto era aquele de se reunir com irmãos, primos e amigos para jogar “Boccia” (ou bocha), esporte muito antigo criado pelos romanos, amplamente depois cultuado em toda a Itália, e nos lugares em que fazia parte do império durante os séculos.
No Brasil veio junto com os imigrantes, e obviamente que onde tem uma colonia italiana que se preze, deve haver também um campo e a prática frequente de bocha.
Um fato histórico interessante é que o esporte tomou uma proporção tão grande ao ponto de alguns reis em 1319 (Carlos IV) e 1576 (Carlos V Patriarca de Venezia) proibirem a sua prática.
A bocha exercita de maneira moderada os músculos, estimula a coordenação motora, estimula o cérebro para as estratégias e concentração além de ser uma boa terapia para o relacionamento.
Sagrado Coração
Sagradamente aos domingos pela manhã era comum ver Alcides e a esposa Eliza Bovolenta, já velhinhos mesmo com a idade avançada aos lentos passos adentrando a paróquia Sagrado Coração de Jesus, próximo a residência na Praça Cavalheiro Virgílio Lunardi na Vila Lavradores.
O casal, que nem sempre morou dentro do perímetro urbano da cidade de Botucatu, Estado de São Paulo, tivera que deixar a propriedade rural por volta de meados dos anos sessenta, afim de poder atender a necessidade de atenção médica de um dos quatro filhos. Apesar da doença ter levado Alcilio, nunca perderam a fé e entregaram o sofrimento, a tristeza e filho nas mãos de Deus.
Dentre outra impressionante marca a destacar é o seu matrimônio com Eliza que chegou as raras bodas de diamante, setenta e cinco anos. Aliás, a exemplo de Natal e Adriana (acima apresentados), a esposa também ultrapassou os noventa anos, para ser mais preciso, Eliza Bovolenta chegou aos noventa e seis anos completos, vindo a falecer exatamente na data em que nasceu, no último dia 30 de abril. Uma maravilhosa coincidência, vinda de dois netos de Antonia Biason e Osvaldo Zamarian, que certamente trouxe muito orgulho e realização a todos dessa família. o Brasil afinal, valeu todos os esforços.
Caminhar é preciso
Além da bocha um outro exercício mais discreto que fazia parte do cotidiano de Alcides era a caminhada.
E os trajetos eram longos, como lembra a sobrinha Vilma Martin, que certa vez ficara impressionara por ele ter caminhado até sua residência de um percurso que era bastante considerável e debaixo de sol castigante.
Alcides sempre foi esbelto, de condição física invejável, mesmo na casa dos noventa anos e claro essa sua disposição para as frequentes caminhadas, ajudou bastante no equilíbrio do corpo e mente.
Afinal a prática frequente da caminhada deixa o pulmão mais eficiente, combate a osteoporose, afasta a depressão, já que durante a caminhada a mente se entrega ao percurso, aumenta a sensação do bem-estar, pois exercita levemente sem estresse físico, diminui a sonolência, além de obviamente, manter o corpo em forma controlando apetites exagerados.
Corpo, alma e espírito ficam revigorados.
E eis que chegamos a campioníssima Angelina Zamarian
“Fideos rellenos”, ou simplesmente uma suculenta torta de rocamboles com queijo e presunto, regada por um enriquecido molho “al sugo”, tipo bolognesa... essa, a perdição de Angelina Zamarian que infelizmente nos deixou recentemente com seu simpático carisma e doce olhar.
La Dolce Vita
Filha de Lionello Zamarian e Erminia Piccione Angelelli, neta de Francesco Zamarian e Angela Piticco, tia “Tita”, como carinhosamente era conhecida pelos mais próximos, tinha um requintado gosto por pratos acompanhados por molhos que apaixonam e dão vida a boa mesa.
Aliás não apenas na dimensão salgada, mas a “pasta frola de dulce”, em se falando de tortas, era o acompanhamento ideal para ela, quando chegava o momento da degustação adocicada que contempla harmoniosamente qualquer refeição.
Sim, fiz questão de colocar os nomes dos pratos preferidos de Angelina, em sua lingua original, para que o leitor saiba que ela provinha de sua amada Mendoza.
A última filha que ainda nos dava o prazer da conexão com o legado do pai Pacifico, que veio ainda criança de Precenicco e no vale do Aconcágua argentino criou seus oito filhos (4 de cada casamento), entre eles a caçula Tita do segundo matrimônio com Angela Piticco.
Não por menos, ela foi imprescindível para que desenvolvêssemos, e principalmente unificássemos com sucesso a grande ramificação Zamarian que compreende Mendoza. Por isso nossa eterna gratidão a ela pela idealização dessa conquista e fico muito feliz por ela ter presenciado isso antes de nos deixar.
Devota de Nossa Senhora de Lourdes, adorava tricotar e apreciar um bom tango
Devota da “Virgen de Lourdes”, em seu cotidiano não poderia faltar os agradecimentos as infinitas Graças conquistadas, sobretudo as advindas à família, da qual sempre expressou uma profunda conexão, atenção e amor.
Depois junto com suas orações diárias, a paixão por tricotar, que certamente carrega em seu DNA. Sim porque a tecelagem é algo presente milenariamente na cultura armênia, que obviamente foi tão apreciada no Vêneto como também atribuída de maneira geral relacionado e descrita como bizantina.
Basta olhar como as roupas da cultura caucasiana eram ricamente adornadas com belos bordados geométricos. Sabemos que de lá também vem a técnica de tecelagem dos majestosos tapetes, até hoje ainda aplicada de forma artesanal.
Mesmo porque no tecer encontra-se também por muitas vezes o vício saudável do conversar, uma terapia que vem sendo substituída por dispositivos eletrônicos hoje em dia, mas que obviamente não chega nem perto da magnitude e retorno proporcionados pelo diálogo presente, trocas e passagem de experiências da cultura herdada.
Mas o coração de tia Tita batia diferente mesmo e consequentemente o mundo parava, quando ela se deparava com uma boa exibição da dança mais “caliente” e apaixonante do mundo: El tango. E se a apresentação estava acompanhada pela gloriosa composição de Enrique Campos, “El Sueño del Pibe”, sua canção favorita, o espetáculo então estava completo.
Ela tem razão. O tango não é simplesmente uma música ou passos deslumbrantes que atiçam até mesmo os olhares mais desapercebidos, ele é o sentimento, alma, a vibração que dão vida as composições, em enredo autêntico para as emoções sentidas.
Generosidade e ternura
De todas emoções já vividas, certamente habitam dentro de mim todos os tangos de Astor Piazzola, Carlos Gardel, Paquita Bernardo e tantos outros compositores, porque realmente envolve de maneira muito íntima a cada passo quando simplesmente se aprecia, quanto dirá o degustando sua magia com uma bela companhia.
Generosidade é uma virtude que na sua pura essência acrescenta algo valoroso ao próximo acima dos próprios interesses, definição essa atribuída pela neta sempre companheira Melisa Cosimano, que perfeitamente não poderia deixar de ser a melhor cúmplice para descrever Angelina Zamarian.
Algo que os noventa e seis anos, três meses e 18 dias que esteve conosco, uma marca recorde em toda nossa genealogia, comprovam apenas por vê-la nos saudar.
Difícil ficar indiferente a todas essas fascinantes histórias de vida, mesmo que de maneira um pouco mais veloz do que elas realmente mereciam. Afinal, repito, revivemos quase um século de vida que juntos somariam quase 600 anos, e claro, nem mesmo um livro seria suficiente para sua devida interpretação como deveriam.
Confesso que essa viajem sobre cada uma delas me fez pensar bastante na maneira como encarava a vida antes e como a vejo agora. Sempre estamos em busca de um norte, um azimute para nos orientar em muitos momentos de reflexão com modelos que nem sempre dizem a nosso respeito, ou pior, satisfazem como esperavam nossos desejos.
A verdade é que esquecemos simplesmente de olhar para o nosso quintal, valorizando nossas origens como deveriam, onde já temos fórmulas prontas com as maiorias das respostas que necessitamos para seguirmos confiantes na nossa trajetória, em um caminho que nos fazem felizes e seguros.
Pois esse sempre foi o maior desejo de nossos antepassados, e, certamente, é, e sempre será, o nosso para aqueles que continuarão.
Na imagem abaixo Da esquerda para a direita de quem vê: Melisa (neta), Martina (bisneta), Angelina Zamarian, Ana (filha) e Mariana (neta)