Os dois Zamas
Essa história começou nas eleições municipais de Londrina de 1988.
Tinha muita espinha na cara, nos meus joviais quatorze pra quinze anos. Trabalhava no Escritório de Contábil Universal, propriedade na época de Antonio Carlos Reis, que ficava na esquina da rua Benjamin Constant com a Professor João Cândido (andar superior) juntamente com Eberson Picone, Alexandre Borges e a Marta, inicialmente.
Minha atividade era aquela fazer serviços externos, munido de uma bicicleta Barra Forte da Monark com freio a bronzina, desempenhando a função de office boy. Isso foi ideal porque tive oportunidade de conhecer melhor minha terra natal, já que em 1979, com cinco anos de idade, mudei definitivamente para Curitiba.
Explico: minha avó materna, Maria de Assis da Rocha, havia sofrido um atropelamento e deste modo minha mãe se prontificou a retornar, dando os atendimentos necessários para sua recuperação, já que o acidente deixou ela acamada temporariamente. Está na índole da Dona Verônica esse tipo de procedimento. Foi assim com a sua sogra Roza Picinin (minha avó paterna, esposa de Severo Zamarian, que no passado precisou ir as pressas de avião para São Paulo para uma cirurgia delicada), não seria diferente com a própria mãe, mesmo se cada uma delas, tinham outros nove filhos. Poderia ser Valentina, mas Verônica ficou a altura.
A candidata
Digo tudo isso porque foi a introdução necessária para conectar ao fator principal proposto por essa temática. Quando realmente começou a propaganda eleitoral na cidade, e eu, naquela época, era conhecido pelo meu finado avô João Costa Melchiades como “político de Minas” (realmente gostava muito disso e até acreditava na minha adolescência), era normal meu aprofundamento nos candidatos que disputavam o pleito municipal. E perambulando por todos os cantos de Londrina, acabei me defrontando com a placa de uma personagem coadjuvante nessa história: Monica Zamarian.
Como assim Monica Zamarian? Nunca ouvi falar dela? Tudo bem, a família é enorme, tinha muitos primos que nem mesmo conhecia, pois fatalmente acabamos, quase que de maneira automática, nos conectando mais com a família materna, por estarmos de forma natural sob as asas de nossas mães... Nem sempre é assim, mas quase sempre é assim.
Ampliando a família
A curiosidade nesses momentos, costuma falar mais alto e a liberdade que eu tinha de buscar esclarecimentos, atrelado ao desconforto para fugir da ignorância, me moveu para o diretório da candidata a vereadora, que ficava na avenida Brasilia, próximo ao terminal rodoviário da cidade.
Fui muito bem recebido, como emana todo ritmo de campanha eleitoral, mas nesse caso preciso ser mais claro: a recepção foi a altura de um digno sobrinho. Daqueles reencontros mais queridos, mesmo se foi a primeira vista, já que no mesmo dia Monica fez questão de me levar para sua casa e apresentar aos, até então, desconhecidos primos: os filhos Alexandre (caçula), Marcelo e Junior, o mais velho, cujo pai era o finado Walter Zamarian, que infelizmente nos deixara em junho de 1984, devido a complicações no seu quadro de recuperação, após um trágico acidente.
E então a partir daí o início a uma amizade fantástica. Junior, apenas dois anos mais novo, algo que contribuiu muito para o desenvolvimento da cumplicidade de tudo que viveríamos juntos dentro daquele espaço de tempo. Desde fatos corriqueiros, memoráveis baladas na Kalahari, até embaraços pós comícios de campanha eleitoral, que são motivos de muitas risadas até hoje, que volte e meia relembramos. Mesmo porque essa relação de sobrinho passou para o patamar filial com o tempo.
Sim, praticamente fui adotado pela Mônica, e, em certos momentos, principalmente quando tinha que dar aquela puxada de orelha, isso funcionava absurdamente a altura. Vivíamos nossa frenética mudança de adolescência para juventude na era do Ferris Builler’s day e no balanço radical de um halfpipe. Não demorou muito para me apelidarem de sabão.
Dizem eles, bola, orékio e glauber categoricamente, que fora por causa da forma como impulsionava meu skateboard, mas tenho lá minhas dúvidas se não tem relação com a chamada maternal após um fato no comício no Shangri-lá, que saiu um pouco do controle cronológico (na realidade foi até quase as duas da manhã) devido a um evento cultural com uma “eleitora” de olhos verdes que prestigiava o evento. Tudo perdoado pois era conforme a idade emanava...
Dois Cirillo
Sem nem menos imaginar, que estávamos reconectando uma confidência congelada há pelo menos um século antes, época que nossos respectivos antepassados principais, Osvaldo e Pietro Zamarian ainda viviam em Malafesta e região, quem sabe com alguma aproximação e confidência, pois haviam nascido exatamente no mesmo lugar, hoje sabemos. Nesse momento parece estar tudo muito mais claro com as últimas evidências descobertas.
Mas, naquela época, o fato de não acharmos uma conexão mais próxima em nossas histórias, intrigava, mesmo se dentro desse contexto, havia um personagem em comum que sustentava nossas hipóteses: Cirillo Zamarian.
Embora eu não conhecia absolutamente nada desse tio do meu pai, poderia sim haver alguma suspeita de conexão aí e sinceramente não tinha nem 5% do conhecimento naquela época, se comparado ao que temos a disposição hoje.
Dúvida esclarecida
Isso então ficou em stand by, partindo também do princípio que estamos falando de um sobrenome particularmente diferenciado, que embora tenha uma grande difusão através de seu desenvolvimento genealógico, como temos visto ultimamente, ainda sim não podemos dizer que chega a ser comum.
Hoje sabemos também que se tratam de Cirillos diferentes, inclusive em suas épocas, sendo o da ramificação do Walter 33 anos mais velho do que aquele que supostamente acreditava ter relação presente na minha linha genealógica. Porém, o que mais nos intriga, considerando as descobertas mais recentes, é que de todos os mais de quatro mil componentes da nossa genealogia a partir da Itália coletados até aqui, apenas dois, provinham apenas e unicamente de nossas respectivas ramificações.
Malafesta e o crepe da vovó
Mas, os bons momentos frequentes duraram apenas aquela temporada de 1988. No ano seguinte retornei para Curitiba. Mantivemos contato a distância, pois as tarefas e deveres de se tornar adulto, exigiam nossa atenção e foco.
Anos depois, no início de 1993, incentivado pelo interesse em conhecer a lingua italiana e se aprofundar na cultura, iniciei sem nem menos me dar conta, as buscas pelas origens. Ingressei no folclore, até saiu alguns passos interessantes que não esqueço até hoje e principalmente conheci pessoas desse meio, que me levaram a iniciar o processo de cidadania.
As buscas por documentos foram criando dentro de mim um desejo não apenas de concluir a burocrática e extensa papelada para a concessão do jus sanguinis, mas um mergulho na própria história com novas descobertas e suas particularidades. O maior desafio era descobrir o lugar específico de onde vinham nossos antepassados, condição sine qua non para começar a brincadeira. A Itália pode ser pequena geograficamente, mas gigantesca em sua história e cultura, criando ao longo do tempo, um emaranhado de micro regiões com suas respectivas múltiplas divisões administrativas. Com relação as paróquias e dioceses não era diferente.
Tinha como base, como a maioria dos descendentes que iniciam esse tipo de processo, apenas uma urbe principal mais generalizada; Venezia (em alguns casos isso é até pior, pois ao invés da cidade, alguns documentos reportam a região, o Vêneto, o que piora consideravelmente as buscas). E poderia ser a capital cheia de canais, mais comum como conhecemos, ou simplesmente a província, com mais de quarenta comunas. Fazendo uma analogia inversa, seria como um italiano procurando por um documento de antepassado que tem apenas como dado o nascimento do procurado, pouco ou quase nenhum contato com a língua portuguesa, em São Paulo, Rio de Janeiro ou Buenos Aires, já que poderiam ser encarados da mesma forma como Estado/Província ou capital.
Estamos partindo do princípio também que era uma época que não existia o Google nem muito menos serviços de comunicação eletrônica. Havia, com muita sorte, algumas pistas e dependendo da localidade, apenas mapas com suas subdivisões. Comunicação através de telefone era inviável por dois motivos; não tinha intimidade com a língua italiana que tenho hoje e a segunda e mais substancial; era extremamente caro e inviável uma chamada internacional.
Comecei os despachos de ofícios para uma seleção de cinco lugares e claro, a capital Venezia no meio dessa primeira leva. As respostas foram negativas. Ao todo eram mais de quarenta e quatro comunas e a idéia era de enviar no mesmo ritmo sequencialmente para cinco novos lugares, totalizando no final nove envios. Considerando que demorava em média cerca de dez dias para chegar ao destino, de outros cinco a sete para expedir a resposta e mais a mesma dezena para retornar, era possível imaginar o quão empolgante se mostrava esse trabalho, além dos custos claro. Como a maioria que fez isso na passado, também cheguei a ficar horas a fio procurando microfilmagens em igrejas mórmons, na esperança de achar algo com um azimute correto, porém foi em vão.
Minha mãe, vendo as várias respostas negativas e acompanhado minha frustração, lembrou que o primo Paulo Zamarian, tinha muito contato com Osvaldo e Antonia Biason (seus avós, meus bisavós), e que certamente poderia saber do local quem sabe citado nas muitas conversas que costumava ter com o casal. Como ele morava em Londrina, pedi a minha irmã que entrasse em contato. Ela me retornou revelando um nome chave: Malafesta.
O grande problema é que não existia nenhuma cidade da província veneziana de minha lista, com esse nome. Um amigo, que foi um dos propulsores nessa movimentação pela cidadania, me apresentou então a um influente funcionário do consulado italiano de Curitiba. Por sorte, esse contato, conhecia muito bem o Vêneto por ser de Treviso e com a ajuda de uma espécie de mini barça geográfica italiana, localizou apenas dois lugares com o nome de Malafesta: um ficava na Sicília (improvável) e o outro era dentro de uma comuna da província de Venezia chamada San Michele Al Tagliamento. Bingo!
Quarenta e cinco dias depois de enviar a solicitação, a resposta com a certificação através de um extrato confirmando o nascimento de Severo Zamarian, meu avô. Apesar de toda essa dificuldade, confesso que conseguir a certidão de nascimento do meu pai aqui no Brasil ainda foi uma tarefa mais difícil. Tudo porque ele havia nascido na cidade de Avaré, Estado de São Paulo, porém somente registrado na cidade de Cambará, Estado do Paraná e ninguém tinha a mínima idéia disso. Salvou achar no meio de seus documentos, uma velha certidão. Depois de todas as parafernálias documentais, acrescentados as respectivas traduções, finalmente a coroação com a concessão da cidadania italiana em abril de 1995 pelo Consulado Geral da Itália de Curitiba.
No final de 1995 retornei a Londrina para acompanhar e me despedir de minha mãe que embarcaria para Roma. Nisso, deu tempo também de conversar com o Walter, onde saboreamos o famigerado crepe da vovó na avenida Higienópolis, colocando a conversa em dia. Ele fazia residência em medicina no Hospital Universitário, eu dava meus primeiros passos na empresa de seguros recém fundada. Mas a parte nossa cronologia de desenvolvimento de adultos que ia de vento em poupa Graças a Deus, revelei a aventurosa jornada que tive para conseguir a cidadania, já que minha mãe estava inclusive partindo para a terrinha com o passaporte italiano, documento que depois a ajudaria muito lá, diga-se de passagem. Valeu todo o trabalho só por esse detalhe. Se interessou de prontidão pedindo minha ajuda para iniciar seu processo da mesma forma e nisso a ideia de fazer uma visita a cidade de Cornélio Procópio, para coletar mais informações com o finado avô Aurelio, filho de Cirillo (citado acima) e Rosa Lachi, pois alertei que sem um norte seria praticamente impossível iniciar qualquer moção.
Cornélio Procópio
A conversa com o avô Aurélio foi bastante prolifica. Uma pena não termos lembrado de registrar isso, pois não apenas o registro eterno, mas essas informações reveladas são sempre ricas em detalhes, que passam desapercebidas por falta de conhecimento melhor, vindas posteriormente com o desenvolvimento genealógico na conclusão de fatos.
Nos contou principalmente da saga familiar da cidade mineira de Aceburgo àquela paulista de Mococa, a relação artesanal familiar com o couro e as consequentes incertezas sobre a origem, já que não possuía documento algum do pai certificando o local exato de seu nascimento.
Chegou até mesmo citar a cidade de Treviso, bastante fora dos locais de desenvolvimento da família na Itália (hoje sabemos). Fiz algumas anotações de seu diagrama familiar, que ainda guardo, conforme a figura revela. O avô Aurelio nos passou ainda cópias de uma certidão de batismo do tio Giovanni (irmão do pai Cirillo); uma certidão de batismo da tia Maria Teresa Martin (esposa de Giovanni); e por fim, uma certidão do matrimônio dos tios Giovanni e Maria Teresa Martin, além de obviamente, a data de nascimento do pai Cirillo Zamarian.
Testemunhando o reencontro com as origens
Esses documentos sim, foram essenciais e revelaram que o casal Giovanni e Maria Teresa Martin residiam Cinto Caomaggiore (cerca de 24 quilômetros de Malafesta) e que Giovanni havia nascido em Portogruaro (quinze quilômetros de Malafesta), dados que nos ajudariam a a ter um norte para as pesquisas. Se Giovanni, o irmão, havia nascido em Portogruaro a chance era grande de Cirillo ser de lá também.
Posteriormente enviei um ofício para Portogruaro afim de obtermos o documento que comprovasse o nascimento de Cirillo Zamarian. Porém a resposta foi negativa porque os dados fornecidos estavam incorretos: Aurelio afirmava (conforme minhas anotações na figura), que o pai havia nascido no dia 15 de maio de 1885, quando o correto era 18 de maio de 1882. Repito, essa era de base de dados que vivemos hoje não era nem sombra naquela época, todo o processo era manual e os dados tinham que ser exatos.
Desta forma Portogruaro respondeu negativamente a solicitação. Com o tempo o município italiano se informatizou e apresentando apenas o nome já era possível chegar ao que se pretendia e o Walter então finalmente obteve o principal documento de Cirillo Zamarian para iniciar e confirmar seu processo de cidadania. Nesse interim, outras informações valiosas vieram para montarmos o início diagrama genealógico, como os nomes dos pais Pietro Zamarian e Antonia Marcos, base de toda ramificação no Brasil.
Em dezembro de 1996, finalmente tive a oportunidade de então conhecer Malafesta. Minha mãe me contemplara com um presente divino: passagem para ir visita-la em Roma e consequentemente conhecer um pouco da Itália. Foram trinta dias memoráveis de experiências incríveis. O reencontro com as origens, conforme reportei aqui, foi cheio de emoções e fundamental para ajudar no trabalho genealógico, pois além de dar a injeção de ânimo mais intimamente nesse percurso, reconectou uma relação valiosa e muito importante para poder chegar a outros componentes da família.
Walter veio me visitar em Curitiba para entregar o convite de sua formatura. Isso me fez lembrar de uma das muitas conversas sobre futuro que tínhamos, naquele 1988, ao me afirmar que queria ingressar no ITA, indaguei: e medicina, como seu pai, não lhe interessa? Foi relutante naquele instante, mas por fim pesou o vínculo paternal e uma década depois estava ali na minha frente o médico Walter Zamarian Junior.
Quanta felicidade ao receber a intimação para testemunhar essa conquista, tanto que comemoramos depois com um belo passeio pela Estrada da Graciosa a cidade de Morretes. Nas conversas, enquanto saboreávamos o típico e apetitoso Barreado, uma retrospectiva das experiências vividas na terra dos Zamas a expectativa de um dia visitarmos juntos o berço dos Zamas na Itália.
Viagem à Botucatu
Em janeiro de 1998, então me preparava para voltar a Londrina. Liguei para o Paulo Zamarian, pois havia uma dívida com ele em virtude de quão importante fora sua contribuição no processo e deste modo não podia deixar de mostrar as fotos, cópias de documentos e diagramas genealógicos que havia recebido do primo Giovanni, que meses depois de retornar da Itália me ligou com enorme felicidade para afirmar nosso grau de parentesco bem próximo por sinal.
Com toda a empolgação gerada, propôs uma viagem a Botucatu, para a partir do prospecto que Giovanni mandara, expandir para uma grande árvore com todos os componentes do Brasil e da mesma forma preparar um material a altura retribuindo a gentileza da família na Itália.
Não resisti ao convite e assim que cheguei em Londrina, juntamente com o seu neto Rafael (filho de seu primogênito Newton Zamarian) partimos rumo a casa do primo Agenor Martin. Grande pessoa, muito interessado em nossas origens também. Lá nos recebeu com a esposa Geni Bovolenta, os filhos Ricardo, Rogerio e os netos Matheus e Bruno (filhos de Rogerio). Na sua residência fez questão de mostrar os equipamentos de sua pequena fabriqueta de vinho, incentivado pela herança oriunda italiana.
São Manuel
Agenor passa ao comando da expedição e nos leva primeiramente a São Manuel do Paraíso: uma espécie de metropolitana de Botucatu, distante vinte e quatro quilômetros.
Região que abrigou com maior freqüência a família durante a primeira década no Brasil.
No centro do pequeno vilarejo, um cenário de vida social bem propício daquilo que geralmente encontramos dentro da cultura advinda da península européia: um campo de boccia, a igrejinha matriz e uma antiga venda.
Mesmo cenário que a família desfrutou no passado
No centro do pequeno vilarejo, um cenário de vida social bem propício daquilo que geralmente encontramos dentro da cultura advinda da península européia: um campo de boccia, a igrejinha matriz e uma antiga venda. Não havia necessidade de readaptação para imaginar a família de Osvaldo Zamarian e Antonia Biason presentes ali, pois a preservação local parecia intacta e naturalmente nos remetia ao passado, para nossa satisfação e alegria.
Testemunhos interessantes
O reencontro com personagens que presenciaram vivência com Osvaldo Zamarian e Antonia Biason enriqueceu as lembranças, conforme registradas no vídeo abaixo.
Um deles, Santo Bravin, enfatizou a grande voz que possuía Osvaldo, que quando jovem frequentava o Coral da igreja de Villanova della Cartera e tinha grande amor pela música.
Tia Mariutta
Para finalizar com chave de ouro o grande momento de nossa expedição: visita a até então, única filha de Osvaldo e Antonia Biason viva: a simpática e querida tia Mariutta, caçula do casal nascida no dia 13 de julho de 1920. Com uma memória fantástica, ela relembrou alguns fatos interessantes, como o nome do proprietário do primeiro local que a família se assentou, conforme reputado as imagens no vídeo anterior, Vincente Soares, ao qual batizada de Fazenda São Vicente. Revelou o local exato de todos os filhos de seus pais Osvaldo e Antonia Biason, e os que nasceram no Brasil; Cirillo (1915), Luiz (1917) e ela própria em 1920.
Entrevista com Maria Zamarian
Trouxe a tona histórias também da casa no Patrimônio Selva, próximo de Londrina, onde teve a oportunidade de morar e acompanhar um pouco da nova aventura dos pais.
Valorosas recordações, que enriquecem nossa história, que mesmo diante de todas as dificuldades enfrentadas, permaneciam vivas na memória, e porque não dizer agora, eternas.
Fazendo uma correlação de como executamos esses contatos hoje em dia, muito mais veloz por causa da facilidade que a web e as redes sociais disponibilizam isso, ainda sim posso dizer que, mesmo com todo esses esforços e traslados requeridos no passado, valia a pena.
Pois essa aventura físico visual, orquestrava uma série de procedimentos que traziam emoções impagáveis, antes, durante e depois. Algo, que mesmo as melhores tecnologias a disposição, estão impossibilitadas de substituir.
Claro, foram essenciais, se pensarmos que juntar mais de quatro mil pessoas, em um curto espaço de tempo dentro de um diagrama, é definitivamente de se espantar, mas acredito também que nada disso seria possível sem ter antes passado por essa base inicial.
...O tempo não para, não para não, não para!
Depois de todas essas eletrizantes vivências, nossas pesquisas tiveram que ficar em stand by novamente. Mas, como cantava Cazuza, o tempo não para. Walter foi pro Rio de Janeiro se especializar em cirurgia plástica (tal como o finado pai, quem diria...) e eu, bem, eu retornei à Curitiba para casar com a Esoline.
Falando em matrimônio, infelizmente o glauber não pode participar; o professor Pitangui judiou e aplicou as tarefas mais importantes da referida especialização para serem executadas justamente naquela época em 2001. Mas fiz questão de deixá-lo como padrinho. Em seu lugar se fez presente o bola.
No ano seguinte, houve uma oportunidade para visitar o Walter no Rio de Janeiro também.
Reinício épico!
Houveram tantos outros momentos em que nos cruzamos. As vezes um pouco mais veloz do que gostaríamos, mas sempre mantendo-se próximo, dentro daquilo que a vida permitia, na nossa correria de sempre. Um especial foi o show do U2 no Morumbi, em fevereiro de 2006. Naturalmente, nossa união, mesmo em episódios mais distantes e outros delicados, nunca deixou de ser forte.
Essa consideração sempre existiu espontaneamente. Até mesmo quando não pude visitá-lo ao ter que me direcionar velozmente para Londrina, devido o falecimento da minha vó, Rosa Picinin (esposa do Severo) em 2010, meses depois que minha filha Bruna nascera. Na saída da cidade, conduzindo o veículo para o retorno a Curitiba, liguei pra ele apenas para dar um oi, e as promessas finais de um encontro decente no futuro.
Mas, foi no final de janeiro de 2020, que a história de dois Zamas começou a tomar a amplitude que hoje se encontra.
Em ocasião de um encontro pontual da família de Severo Zamarian e Rosa Picinin, muito bem organizada em uma moção maravilhosa da prima Priscila Zamarian, em Londrina, aproveitamos o evento para nos rever.
Me convidou pra jantar e conhecer a simpática esposa Isanna, a fofura da primogênita Pietra (a história continua), que deu trabalho para conquistá-la naquela noite, o amoroso Netinho e a notícia de que (Matteo, ainda não haviam escolhido o nome), outra benção Divina estava por vir.
Revelei ao Walter algumas descobertas recentes, já que havia preparado um material para apresentar na confraternização familiar solicitado pela Priscila e novamente nos empolgamos.
Dias depois ele me apresentou a prima Patrizia Martin, descendente de Giuseppina Zamarian (filha de Pietro e Antonia Marcos) e o marido Antonio Martin.
Nisso criamos um grupo para nos conhecermos melhor e discernir sobre o assunto. Dessa forma, a oportunidade de inserir nele outros membros italianos que pudessem nos ajudar como a Sandra Olivo, Samantha Zamarian e Orietta Zamarian. Nascia aqui o primeiro grupo italo-brasileiro relacionando a pesquisa de nossa genealogia, que depois seria a base do que hoje chamamos “La Favorita” da qual através desse piloto, gerou outras duas versões: português e espanhol.
Isso nos deu coragem para começar a compor toda a genealogia de Pietro Zamarian a Antonia Marcos. Inicialmente, montando o grupo brasileiro de trabalhos, convidei o primo Jose Carlos Zamarian de Maringá, outro grande parceiro que durante muitos anos sempre contribuiu com nossa genealogia, aproveitando seu trabalho para a base. Posteriormente o grupo foi crescendo e conhecemos pessoas fantásticas que abraçaram prontamente o projeto como a Luiza Zamarian, Keity Zamarian, Nestor José Dias Filho, Priscila Zamarian, Olivier Negri, Angela Benis, Ruben Nunes, Duartino Zamarian, Walter Craveiro, Virgínia Landi e tantos outros. No espaço de seis meses a genealogia do casal Pietro e Antonia Marcos saltou de pouco mais de duzentos membros para quase dois mil.
Unificar as ramificações de Osvaldo e Pietro, essa era a nossa sina inicialmente, mas a experiência foi tamanha, que naturalmente no espaço de alguns meses chegamos a cronologia histórica familiar chegar ao início dos anos 1700, já que toda essa moção nos levou para descobrir outros primos da cidade de Mendoza na Argentina, cuja história é reportada aqui no El Tango Zamarian. Nascia através da Orietta Zamarian, Nicolas Zamarian e grande parte da família de Pacifico e Francisco Zamarian a “La Favorita” versão em espanhol. Nisso verificamos também que na Argentina tinha o mesmo problema que no Brasil: as famílias das cidades de Mendoza e Salta não conheciam seus respectivos parentescos. Mas Por onde Andes Zamarian, não Salta nossa vontade de saber. Resumindo: mais de quatro mil envolvidos nas ramificações e crescendo com descobertas e resoluções fantásticas.
Ampliando as ramificações
Um grato exemplo de tudo isso se reflete na foto acima. Victor Enrique Rodriguez (à esquerda na foto de quem vê), proprietário de uma confeitaria no município de Godoy Cruz, nem imaginava que uma de suas clientes assíduas, Maria Rosa Zamarian (de óculos à direita na foto de quem vê), era sua prima.
Então eu pergunto: estamos sintetizando aqui mais de trinta anos apenas da história de Antonio e de Walter? Ou seria também o começo daquela de Victor e Maria Rosa? Ou ainda aquela de mais de um século de Pietro e Osvaldo? Talvez as de Marco e Giovanni Battista na Argentina? De três séculos (in progress...)?
Fico simplesmente muito feliz quando vejo outros exemplos iguais florescendo nos grupos criados, abrindo fronteiras espetaculares e trocas sublimes de experiências. Porque quanto mais cultivamos nossos valores, na humilde satisfação do querer conhecer, mais preservamos tudo aquilo que a vida nos presenteou.
Enfim, essa, é a história de todos nós. E pra quem se dá essa oportunidade, pode ter a satisfação de abraçar um pouco de sua própria cultura em vários rostos e idiomas, como as grandes emoções que vivi, ou melhor que vivemos juntos até aqui. Essa locomotiva, não possui pré-conceitos. Corre a todo vapor, passando por inimagináveis lugares, percorrendo gerações, fornecendo ingressos grátis para quem quiser sair da ignorância e ter maravilhosas histórias para contar depois.
Porque é evidente que tudo isso não começou apenas nas eleições municipais de 1988.