Antonio e Maria

Nossa genealogia é composta atualmente de oito mil duzentos e quarenta e oito membros entre descendentes, cônjuges e correlacionados. São cerca de três mil e duzentas famílias aproximadamente em quase mil locais diferentes espalhados pelo mundo e basicamente formada pelos nomes que a compõe.

Separadamente, apenas para constatação, se considerar-mos apenas os não conjugados, Maria Zamarian é o nome feminino que mais se destaca na árvore com 2 dezenas, se multiplicando consideravelmente nos casos compostos.

O se aplica na esfera masculina para os Antonio Zamarian que são maioria absoluta, porém com uma considerável vantagem, em relação às Marias, que se apresentam em mais de três dezenas. Já nos demais casos conjugados, considerando não apenas os Zamarian, partimos pras casas de centenas.


Maria Zamarian e Antonio Martin
Maria Zamarian, filha de Osvaldo e Antonia Biason com o marido Antonio Martin, em ocasião da celebração do casamento

Maria, “senhora soberana”, “a pura”, dispensamos apresentações de como provavelmente se dissipou em nossa história: é inconfundível e milenar! Ainda mais se falando de uma base espiritual particularmente cristã, como já estudamos até aqui, e bem resolvida, se realmente confirmada as origens armênias, que falaremos um pouco mais no decorrer deste artigo.

Já Antonio é mais recente e sem dúvidas não engloba apenas a nossa genealogia, mas basicamente milhares de outras espalhadas pelo mundo, principalmente aquelas ligadas a cultura latina. Tudo graças não a propriamente dito um Antônio, mas ao franciscano nascido em Lisboa batizado pelos pais como Fernando, e rebatizado pela ordem como Antonio, que no latim significa “digno de ser”, “de valor inestimável”.

Mas para a genealogia Zamarian em particular, isso é um pouco mais profundo e sagrado. Santo Antônio viveu entre os anos de 1.195 e 1.231 em Padova, cerca de noventa quilômetros do epicentro em que se desenvolveu a família, quase na foz do Rio Tagliamento, entre Portogruaro, San Michele, Latisana e Precenicco.

Para se ter uma idéia, uma capela em forma octogonal, foi edificada em homenagem ao Santo dentro das propriedades da família Zamarian em Malafesta, San Michele al Tagliamento. Inaugurada pelo próprio Papa Alexandre VII, no dia 8 de setembro de 1666, em que segundo alguns relatos, com mão de obra da própria família, coincidentemente na ocasião da sua trasnferência de Fratta (Fossalta de Portogruaro) para o local.


Oratorio de Sant'Antonio de Malafesta, edificado em 1666
Oratorio de Sant'Antonio de Malafesta, edificado em 1666

O primeiro Antonio Zamarian que aparece em nossa genealogia, pelo menos até o momento, nasceu por volta do ano de 1751 em Malafesta, filho de Giovanni Maria e Elena Petron. Já a primeira Maria Zamarian, data mais ou menos do ano de 1783, também nascida no mesmo núcleo base de nossa genealogia, filha de Giovanni Battista e Domenica Padovan.

Tradicionalmente

É frequente e comum, no que se refere a cultura mais antiga tradicional, a continuidade dos nomes de nossos ancestrais, principalmente por parte dos netos homenagiando os respectivos avós. Por exemplo, o começo de nossas origens mostra que particularmente o nome Giovanni (João), foi imperativo perdurando dentro dos séculos e se multiplicando nas diversas ramficações formadas.

Pelo menos na história genealógica dentro da Itália, ele foi soberano desde o Século XVII até tempos bem recentes e nunca deixou de ser atribuído, um pouco também pela tradição cristã, desconsiderando a conexão e o conhecimento com o seu passado.

Giovanni Maria Zamarian, ou “Gio:Maria” e até mesmo “Zammaria” no dialeto tipicamente veneto-friulano, foi nossa maior referência no início dos estudos, sendo a base para construção de nossa genealogia. A partir dele, uma série de outros “singles” e também compostos, principalmente os “Battista”, prevaleceram destacadamente nos vários ramos que surgiram posteriormente a partir dele.

A exemplo disso, Luigi (Luis/Luiz) conquistou um espaço destacado e interessante na geanalogia Zamarian, se perpetuando de forma considerável até os dias atuais. O mesmo se aplica para, Giuseppe (José) Pietro (Pedro), Domenico (Domingos) e Giacomo (Jacó), nomes imprescindíveis ao longo de nossa história.

Influência Matriarca

Estudos antropológicos da cultura social árabe realizados na Mesopotâmia, berço da civilização entre os rios Tigre e Eufrates (e isso inclui também principalmente os armênios), revelam que no início, as famílias eram lideradas por mulheres e deste modo vistas como chefes de suas respectivas tribos. Basicamente, esses exemplos são evidentes em momentos pontuais da história da civilização e de certa forma transparente se comparado a natureza da formação de sociedades mútuas organizacionais.

Na Itália, apesar de vezes parecer muito patriarcal, as mães tem uma posição muito peculiar neste sentido. Nem sempre de maneira imperativa, mas na maioria dos casos como atribuição carinhosa e de muito respeito.


Santa Ursula
Santa Ursula - Século IV, Colonia (Alemanha)

A estrutura inicial feminina de nossa base genealógica, mostra alguns nomes diferenciados como Elena, Sabbata, Orsola e Caterina, que tiveram principalmente influências populares e religiosas, vezes desviando, mas ao mesmo tempo, focando o aspecto tradicional histórico familiar. Já outros casos, variantes da conotação masculina mais utilizada como forma de homenagem, também se destacaram, como Domenica, Giacoma, Giuseppina, Luigia e Giovanna.

Giulia foi pouco lembrado neste sentido das homenagens, pois pertenceu a matriarca Giulia Cecutto, esposa de Giovanni Maria supracitado, porém, mesmo assim, houveram tentativas de recuperar este víncula.

No entanto, foi outra Cecutto que proporcionou uma série histórica, distinguindo progressivamente, uma das ramificações de nossa genealogia: trata-se de Valentina Cecutto, que porém, falaremos mais adiante como tema principal da pauta.

Angela é sem dúvidas, depois de Maria, o nome feminino mais utilizado com quase uma centena e meia no geral. Só os conjugados com o sobrenome Zamarian, são quase vinte presentes, sendo a primeira aparição, no ano de 1719, na mesma Malafesta, San Michele al Tagliamento.

Bastante particular

Recentemente, se agregou ao nosso valoroso acervo de documentos, o registro de batismo de Domenica Zamarian, documento mais antigo até aqui, datato de 2 de outubro de 1725, que colocou em evidência um nome relativamente diferenciado e intrigante: o do avô Iseppo, provavelmente nascido por volta do ano de 1670.


Registro de Batismo de Domenica Zamarian
Registro de Batismo de Domenica Zamarian

Transliteralmente o documento traz o seguinte texto:

Aos 2 de Outubro de 1725
Domenica filha legítima. Nascida de Gio Maria filho de Iseppo Zamarian e de Giulia filha de Osvaldo Sicutto de Fratta cônjuges. Foi Batizada por mim Pároco Francesco Covassini Curador. Padrinhos Domenico filho do finado Angelo Macor e Domenica filha do finado Girolamo Peloso. Nascida ontem.

Segundo a Senhora Paola Sist, responsável pelo Arquivo Histórico Diocesano de Concordia-Pordenone, fundamental área que engloba boa parte do nosso epicentro genealógico, a grafia é aquela acima apresentada com suas próprias observações. É possível tratar-se de uma interpretação errônea? Para alguém que está diretamente envolvido neste tipo de trabalho e adquire conhecimentos básicos para interepretar tais documentos, muito difícil.

Entretanto, estamos seguidamente aqui publicando de maneira vezes até ansiosa, a possibilidade de chegarmos finalmente ao Zamarian que entrou na Itália, visto que algumas teorias, nos levam à Armênia, devida a cumplicidade que a grafia tem com aqueles oriundos de lá. E claro, a forma diferenciada como esse nome se apresentou, nos faz alimentar tal suspeita.

Aprofundando-se um pouco neste tema, a primeira moção foi buscar na rede algo que poderia estar relacionado ao nome “Iseppo”, se ele realmente existia. Curiosamente, um dos resultados obtidos também sugeriu uma eqüivalência ao nome “Giuseppe” (José).


Iseppo Porto e o filho Adriano
Iseppo Porto e o filho Adriano

Entretanto, o personagem apontado era efetivamente conhecido com o nome buscado: trata-se de Iseppo da Porto, que coincidentemente sua história transcorre quase no mesmo período que a de Iseppo Zamarian, entre os anos de 1550 e 1650.

Filho de Girolamo da Porto e Angela Barbaran, uma família nobre de Vicenza (Veneto), cerca de 130 quilômetros de onde desenvolve a genealozia Zamarian, Iseppo Porto cresce estruturado e se torna uma pessoa bastante influente, conhecida na região, se destacando na carreira política, social e cultural de Vicenza.

Deixando um pouco de lado a história do aristocrata da família Porto e mergulhando mais no nome “Iseppo”: a segunda moção nos levou ao nome José (Giuseppe) na forma como se apresenta na Armênia e categoricamente os resultados também se mostraram surpreendentes.

Giuseppe (José) em armênio, lembrando que estamos falando de alfabetos diferentes em que é preciso transcrever levando em consideração única e exclusivamente o som das palavras, que seria então graficamente transliterado assim: Ջուզեպպե (Juzeppe).

Um outro detalhe que é importante ser destacado diz respeito a correlação da letra “j” com a letra “i”: na esfera dos alfabetos diferentes ao latim, basicamente não é difícil descartar uma interpretação, de maneira menos técnica, dando a mesma atribuição fonética para as duas palavras. Deste modo “Ju” (íú) ou “I” poderiam facilmente serem utilizadas para o mesmo fim.

Procurando a forma como se apresenta graficamente José em armênio, ou seja, não estamos falando agora de transliteração, mas sim de como é transcrito o nome em armênio, encontramos então Յովսէփ.

Uma referência pessoal válida para a comparação, é o escritor armênio Joseph Emin, que na página de seu perfil, mostra exatamente como é seu nome nativo. Deste modo, se jogarmos nas buscas tal grafia, os resultados serão inúmeros outros José no alfabeto armênio como ficou evidenciado aqui


Alfabeto da língua armênia
Alfabeto da língua armênia

Fazendo uma rápida análise de transcrição entre o latim e o armênio teríamos: Յ (J) ո (o) վ (v) ս (s) է (e)փ (p), Jovsep, seis carácteres como “Iseppo”, embora o som da letra J tenha mais familidade com o nosso R, que para os armênios é também interpretado como H: Hovsep.

Em hebraico “Yosef” quer dizer “ele acrescentará”, muito popular na Armênia, que foi o primeiro país na história, à adotar o cristianismo como religião oficial, em que segundo a história local, os próprios apóstolos de Cristo, São Bartolomeu e São Judas Tadeu, instituíram a Igreja no país por volta do Século I.

Considerações e estudos relativos à parte, fato é que Iseppo hoje torna-se a base de nossa genealogia e da mesma forma como perdurou o nome de seu filho Giovanni Maria Zamarian, assim permanecerá até que então seja revelado o nome do pai para um novo capítulo de buscas.

O último dos moicanos

Carlos Roberto Zamarian, filho de Antonio e neto de Rafaele, conta que os bisavós Osvaldo e Antonia Biason sistematicamente tentavam interferir nesta questão dos nomes, quando ao mundo, estava para vir mais um componente de nossa genealogia.

Ninguém entendia ao certo o porquê desta insistência, e somente com os estudos concluídos nos últimos anos em nossa genealogia, sobretudo após a revelação da própria arquitetura da sua ramificação, foi possível entender quão louvável e pertinente era seu pedido.

Voltamos a falar então de Valentina Cecutto que se casou por volta do ano de 1750 com Osvaldo Zamarian, este nascido por volta de 1724 em Malafesta, primeiro da fila encontrado em toda a genealogia Zamarian até aquim a utilizar este nome e particularmente trisavô daquele supracitado, marido de Antonia Biason.

Da relação do casal um dos frutos em especial, nasceu por volta do ano de 1751 (sempre em Malafesta) e foi agraciado com o nome da mãe, passando a se chamar Valentino Zamarian. Neste momento se inicia uma série particularmente interessante no capítulo de nossa história onomástica.

Valentino por sua vez, após contrair casamento com Domenica Biason, decide batizar em 15 de maio de 1778, um de seus filhos com o nome do pai: Osvaldo Zamarian.

Deste Osvaldo de 1778, conseguimos apurar três frutos em diferentes matrimônios: duas filhas foram batizadas de Valentina e um filho como Valentino, nascido no dia 12 de agosto de 1829.

No dia 24 de junho de 1869, Valentino (nascido em 1829) também decide continuar a tradição e batiza o filho com o nome de Osvaldo Zamarian, aquele que se casa com Antonia Biason e juntos emigram para o Brasil em 1913.


Evolução Osvaldo e Valentino
Evolução Osvaldo e Valentino

A história não se encerra no patriarca que deu origem a uma das duas mais extensas ramificações no Brasil, já que o terceiro filho da relação com Antonia Biason, recebe o nome de Giuseppe Valentino, nascido em 14 de maio de 1905 em Malafesta.

Giuseppe Valentino não dá continuidade a série, mas o irmão Rafaele chama para si tal responsabilidade de manter a tradição e então batiza seu filho caçula, no dia 28 de agosto de 1937, com o nome de Osvaldo confirmando um ciclo de mais de três séculos.


Osvaldo Zamarian, filho de Rafaele, nascido em 1937
Osvaldo Zamarian (Valdão), filho de Rafaele, último da série nascido em 1937

Último da saga, já que em nenhum outro ramo familiar, infelizmente deu continuidade à tradição, conforme já constatado, Osvaldo Zamarian vive hoje em Assaí (Paraná) e carinhosamente é referido como Valdão pelos mais próximos. A profissão serralheiro, assim como era, o trisavô Osvaldo Osvaldini, pai da bisavó Elena Osvaldini, oriundos de San Giorgio della Richinvelda, foi a exercida por vários anos para sustentar seus descendentes.

Reconectando as origens

Se a incrível série de vários Osvaldo e tantos outros Valentino, infelizmente se encerrou em 1937, curiosamente outras histórias dentro do contexto de nomes, para nossa grande alegria, tem ressurgido, com a esperança de fortalecer esse pacto com o passado. Fato é que nomes importantes da nossa genealogia, estão gradativamente retornando.

É possível talvez que tal reconexão venha ocorrendo de forma despretenciosa em alguns casos, sem talvez até ter relação diretamente com nossos ancestrais. No entanto, em algumas consultas, a constatação tem sido positiva na busca de manter a tradição, homenagiando nosso passado.

Pelo sim pelo não, acreditamos que todo nosso trabalho de novas descobertas, na busca incessante de recuperar essa relação com as origens, tem inspirado descendentes mundo a fora recuperarem o elo perdido, conservando assim, importante fragmento da própria história.


As novas gerações
As novas gerações

Seja como for, sempre será emocionante aderir à nossa árvore La Favorita, um novo descendente, construindo assim o nome da grande história de todos nós.