Exuberante paisagem, raízes profundas


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Conhecida também como “as raízes do vinho” San Giorgio della Richinvelda fica entre o Torrente Meduna e o majestoso rio Tagliamento, que deslizam exuberantes dos Alpes, distante trinta quilômetros ao norte de Malafesta, onde foi ponto de partida da história Zamarian na Itália, que como temos acompanhado (ao que tudo indica) se desencadeou por volta de 1700.


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Os primeiros assentamentos no local datam de épocas pré-históricas, até serem colonizadas pelos romanos. A primeira parte do topônimo, San Giorgio (ou simplesmente São Jorge (275-303 d.C., nascido na Capadócia, Anatólia), como homenagem, visto que o santo cavaleiro ganha grande popularidade no vêneto.

Já a segunda, devida a grande planície arenosa que forma o local, a probabilidade da composição longboarda Arìchis e da terminologia germânica “Wald” (floresta) e desta forma dando origem então a “floresta de Arìchis”. Depois outra tese é de que tenha derivado do anglo-saxão “Rik” (zona rica ou lugar), e “Feld” (campo), no qual interpretamos prado real ou terra privilegiada.

Teatro no passado de confrontos sangrentos, como evidenciado pelos instrumentos de guerra, as adagas, os restos de ossos humanos e cavalos encontrados na área, foi sede de uma antiga igreja paroquial, cujas origens remontam ao século XI. Passa a ser território de Venezia a partir de 1420.


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Barbatella

As pedras brancas dilapidadas pelo rio Tagliamento, misturadas as deslumbrantes paisagens da cadeia montanhosa dos Alpes ao fundo, além dos imensos parreirais que circundam a região, obviamente pelo grande volume de água com seu rico solo argiloso, interessante para o desenvolvimento da “barbatella”: A planta é obtida a partir de uma videira já “adulta”, da qual se “corta” um ramo (também denominado estaca ou talea).

Este “graveto” de videira assim obtido é então colocado no solo (arenoso e húmido), de modo que as raízes, a chamada "barba", se desenvolvam a partir da extremidade cortada.

Tudo isto é possível graças à capacidade de regeneração da videira (e de muitas outras plantas) ou de auto-regeneração de partes previamente mutiladas (neste caso as raízes).

Uma vez que as raízes tenham se desenvolvido, o ramo inicial fica independente em todos os aspectos.

Este enxerto se fez necessário para a planta resistir ao temível parasita filoxera, hemíptero oriundo do continente americano que devastou as plantações de uva por volta de 1850 na Europa.

Graças a esse enxerto genial as viticulturas de boa parte do mundo foram salvas.

San Giorgio della Richinvelda, através da união de suas cooperativas, em meados do século XX, iniciaram estudos técnológicos de desenvolvimento em massa desses enxertos potentes e hoje são líderes globais de distribuição, de modo que, muito do que é plantado no mundo inteiro, parte preterivelmente desse solo sagrado.

Elena Osvaldini

Elena, matriarca importante que compõe nossa genealogia, nasceu em San Giorgio della Richinvelda.

Filha de Osvaldo, que lidava com ferro e tinha uma serralheria na cidade, e de Antonia Bonita, nasceu no dia 13 de março de 1795 e casou-se aos vinte e oito anos de idade com Osvaldo Zamarian (nascido em Villanova (provavelmente Malafesta) no dia 15 de maio de 1778, filho de Valentino (1751-1811) e Domenica Biason).


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O casamento foi celebrado na paróquia que leva o mesmo nome da cidade, no dia 26 de novembro de 1823.

A igreja historicamente é muito antiga. Acervos históricos da Diocese de Pordenone confirmam documentos de seu rico acervo desde o ano de 985 que dizem respeito não apenas ao local, mas de uma ampla comunidade em que teve influência.

San Giorgio de fato foi matriz de quinze paróquias, das quais quatro além das margens do rio Tagliamento e outras onze do mesmo lado. Obviamente sua antiguidade entra em consenso com a história do lugar de característica pré-romana como citado no início.


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A igreja

San Giorgio de fato foi matriz de quinze paróquias, das quais quatro além das margens do rio Tagliamento e outras onze do mesmo lado. Obviamente sua antiguidade entra em consenso com a história do lugar de característica pré-romana como citado no início.

Passou por várias revitalizações e também foi ganhando peças de valor expressivo durante os séculos.

A faxada é composta de dois vitrais laterais e uma rosa central. As encostas decoradas com arcos suspensos e rematadas pela cruz no cume com dois pináculos laterais. Sobre a porta de entrada um alto relevo de São Jorge em sua imagem popularmente conhecida (figura 2).

Detalhes internos

Internamente possui uma nave central e duas laterais.

Um arco pontiagudo e três degraus delimitam o espaço do presbitério, coberto por uma abóbada de cruz e iluminado por janelas abertas nas paredes laterais.

A fonte batismal é de 1589 com uma cobertura poligonal contemplada com a estátua de São João Batista (figura 3).

Da mesma época a fonte de água benta a direita logo na entrada principal.

Riqueza artística

Sobre as paredes temas dedicados a São Jorge lutando contra o dragão, que datam da metade de do século XIX, e um setecentismo dedicado a “Maddona del Rosario” na parede esquerda e outro dedicado à São José (recuperado depois da primeira guerra) no lado oposto do altar de Nossa Senhora ou “della Madonna”.

A decoração estampada nas paredes laterais e no presbitério é obra de Francesco Barazzutti, de Gemona, que trabalhou em San Giorgio em 1898, amigo de Girolamo D’Aronco (famoso arquiteto de Veneza).

Sobre as paredes da nave central, anjos segurando faixas com versos retirados dos salmos e evangelhos em latim.

No centro o cordeiro apocalíptico Cristo redentor, todos elaborados por Giuseppe Barazzutti.

Nas lunetas sobre as portas laterais, na direita, aparece São Paulo com a espada, instrumento do seu martírio, e a esquerda , São Roque (de Montpellier) protetor da peste.

Sobre o arco triunfal um afresco de Cristo abençoador entre os dois anjos segurando as faixas (fig. 5).

O arco é decorado com dois Anjos, enquanto no que dá acesso à abside há representações da penitente Madalena, claramente inspirada no pintor veneziano Tiziano Vecellio (1488-1576), e da Educação da Virgem.

Nas quatro velas da abóbada do presbitério estão representados São Jorge, patrono da igreja (fig. 6).

Santo Stefano, protomártir da igreja cristã; Sant’Isidoro agricultor e Bispo Bertrando com a paisagem da igreja de San Nicolò (outra paróquia da cidade) atrás dele e a pedra memorial de seu assassinato em Richinvelda.

O órgão de Zanin

No dia 7 de outubro de 1900 a igreja ganha também um órgão para coroar toda sua riqueza e beleza artística cultural interior.

Produzido por Beniamino Zanin, especialista renomado de Codroipo. Após o sisma de 1976, o instrumento teve que passar por restaurações (figura 7).

Essa igreja passaria a fazer parte de nossa história novamente no dia 10 de fevereiro de 1858, quando Valentino Zamarian (então filho do casal Osvaldo-Elena, e pai de Osvaldo Zamarian, que viria para o Brasil em 1913) também casa-se aos vinte e oito anos com Teresa Biasin.

Villa Pecile e Osvaldo Osvaldini

Um dos cartões postais de San Giorgio della Richinvelda, a Villa Pecile foi erigida por volta do ano de mil setecentos e cinquenta, justo a época em que o pai de Elena, Osvaldo Osvaldini, trabalhava como serralheiro e não se descarta que o belo portão externo não tenha tido sua participação diretamente.

A obra, de complexa arquiterua refinada para os padrões da época, foi financiada pela nobre família Leoni, que até então residia em Venezia se curvando para tentadora da beleza natural de Richinvelda.

Em 1841 Giovanni Battista Leoni recebe o título de marquês em San Gallo Moggio, não muito distante de San Giorgio, porém tem que deixar o local para assumir o compromisso público.

A propriedade então, acaba sendo adquirida em 1851 por Gabriele Luigi Pecile, outro nobre proprietário de terras e político. Entre outros, particularmente é conhecido por publicar as primeiras regras de futebol na Itália.


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